‘Eu não vou rir nem vou chorar’, diz Lula sobre delação da Odebrecht
Um dia depois de ter sido levantado o sigilo das delações da Odebrecht, o ex-presidente Lula afirmou nesta quinta-feira que a acusação contra ele é tão “inverossímil e irreal” que não vai rir nem chorar, apenas ler cada peça do processo para chegar com segurança “no dia certo”. Em entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador, o ex-presidente disse que não pode ficar nervoso ou perder a cabeça “por uma coisa dessa” neste momento.
— Mais um absurdo, a delação do Marcelo Odebrecht. Eu até compreendo que o Marcelo já tá preso há dois anos, que ele tem família fora, que ele tá comendo o pão que o diabo amassou e talvez esteja tentando criar condição para sair da cadeia. Agora, é tão inverossímil a acusação, é tão irreal, que eu não vou rir nem vou chorar. Vou analisar corretamente, vou conversar com os advogados, vou ler cada peça do processo, pra que a gente possa chegar no dia certo claramente e com segurança. A delação tem que ser provada, a pessoa tem que provar — afirmou.
Lula disse ainda que está tranquilo e desafiou empresários a dizerem que pediu dinheiro a eles.
— Eu to muito tranquilo, porque eu continuo desafiando qualquer empresário brasileiro, qualquer empresário, a dizer que o Lula pediu R$ 10 pra ele. Se alguém pediu em meu nome, essa pessoa tem que ser presa, porque eu nunca autorizei ninguém a pedir dinheiro em meu nome. Eu não posso ficar nervoso, perder a cabeça por uma coisa dessa nesse momento. Hoje vou começar a ler as peças e me preparar para ao meu depoimento e a vida continua. Vou continuar fazendo política. O dia que alguém que provar um erro meu ou R$ 10 ilícitos na minha vida, eu paro com a política — disse Lula.
O ex-presidente falou também sobre seu primeiro depoimento ao juiz Sérgio Moro, marcado para o dia 3 de maio, em Curitiba.
— Cada depoimento que eu vou prestar eu fico surpreso com a qualidade das perguntas que eles fazem, porque é uma coisa até sem nexo, ou seja, me parece que eles já estão com a tese pronta e querem só encontrar o conteúdo para colocar dentro da tese deles. Eu tô tranquilo, vou prestar depoimento no dia 3 de maio, e é a grande oportunidade que eu tenho de ouvir as perguntas e as acusações que eu sou vítima, para poder responder com muita tranquilidade.
Lula disse que mais grave do que a sua prisão, “mais escabroso”, é o “golpe” que o país teve:
— Uma parte da elite brasileira resolveu não conviver mais com qualquer política de distribuição social, foi dado um golpe nesse país. Você vê que quem está governando esse país está desmontando conquistas históricas da classe trabalhadora. A terceirização do jeito que foi feito nós vamos voltar ao tempo da escravidão, a tentava de extinguir a CLT, extinguir a Justiça do Trabalho, a tentativa de mexer com a aposentadoria, sobretudo a do povo mais pobre desse país. É quase que uma coisa criminosa — afirmou, acrescentando que precisam encontrar “uma pulga” para evitar que ele seja candidato em 2018.
— Quero que alguém nesse país, com não sei quantos juízes, promotores, que prove contra mim alguma dessas acusações que eu vejo na imprensa todo santo dia — emendou.
Lula disse que está triste com a situação econômica do país e que não tem medo de adversidades:
— Pode me bater, quem nasceu em Garanhus na época que eu nasci e não morreu de fome até completar cinco anos de idade não tem medo de nenhuma adversidade, enfrentarei todas elas de cabeça erguida.