‘Irmã’ da Ômicron representa mais ameaça ao Brasil do que Deltacron, afirma virologista
O anúncio do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de que o Brasil investiga dois casos suspeitos da variante Deltacron – um versão híbrida de Delta e Ômicron – chamou atenção nesta semana, embora não represente um risco, ao contrário do que ocorre com uma subvariante da Ômicron que já circula no país e está associada a um aumento de novos casos de Covid-19 na Europa.
Queiroga corrigiu-se nesta quarta-feira (16) sobre a confirmação de dois casos da variante Deltacron no Brasil. Segundo ele, as notificações foram feitas pelos estados e ainda precisam ser confirmadas pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Todavia, é possível que, assim como outras variantes chegaram aqui, a Deltacron também seja detectada em breve.
Ela foi relatada em pelo menos 17 pacientes nos Estados Unidos e na Europa em um artigo ainda sem a revisão de pares publicado, na semana passada, na plataforma medRxiv pelo pesquisador francês Philippe Colson.
É um coronavírus Sars-CoV-2 que combina a proteína de pico (spike) – parte do vírus que se liga aos receptores humanos – da Ômicron com o “corpo” da variante Delta.
Uma variante Deltacron já havia sido anunciada em janeiro deste ano por um virologista do Chipre, mas no fim constatou-se que se tratava de uma contaminação de amostras e não de uma versão recombinante do coronavírus.
Desta vez, a verdadeira Deltacron foi classificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como sendo uma VUM (variante sob monitoramento, na sigla em inglês).
É um tratamento diferente daquele dado à Ômicron, que logo que foi identificada se tornou uma VOC (variante de preocupação), assim como outras que já tinham causado grandes ondas de Covid-19: Alfa, Beta, Gama e Delta.
O virologista José Eduardo Levi, chefe da unidade de biologia molecular da rede de saúde integrada Dasa e pesquisador do IMT-USP (Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo), explica que “não surpreende” o surgimento deste tipo de variante híbrida ou recombinante.
“O máximo que esse vírus pode ser é tão ruim quanto a Ômicron ou quanto a Delta, que são duas variantes que a gente já passou. Ele não se torna um monstrinho ou um quimera pior do que Delta ou que Ômicron. Tende a ser, do ponto de vista biológico, muito parecido com a Ômicron mesmo nas questões de transmissibilidade e de infecção, principalmente por resultado da proteína S [spike].”
Levi acrescenta que com a explosão mundial da Ômicron, desde o começo de dezembro, algumas pessoas podem ter sido infectadas simultaneamente também pela Delta, variante que era dominante no mundo até então, dando origem à cepa Deltacron.
Segundo o especialista, a versão recombinante das duas variantes não representa uma ameaça do ponto de vista epidemiológico. “É mais uma curiosidade virológica”, pontua.