Bolsonaro muda rotina e passa a evitar imprensa
Desde que o empresário Paulo Marinho relatou ao jornal Folha de S.Paulo um suposto vazamento de informações da Polícia Federal para a família presidencial, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem evitado contato com os jornalistas e, dessa forma, se preservado de perguntas sobre as declarações de seu ex-aliado.
Marinho, 68, que durante a campanha presidencial foi um dos mais importantes apoiadores de Bolsonaro, disse que, segundo ouviu do próprio filho do presidente, um delegado da Polícia Federal antecipou a Flávio Bolsonaro em outubro de 2018 que a Operação Furna da Onça, então sigilosa, seria realizada.
Essa operação, segundo ele, teria sido “segurada” para que não atrapalhasse Bolsonaro na disputa eleitoral. De acordo com o relato, o filho do presidente foi avisado entre o primeiro e o segundo turnos por um delegado simpatizante da candidatura de Bolsonaro à Presidência.
Os desdobramentos da operação revelaram um esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio e atingiram Fabrício Queiroz, policial militar aposentado amigo de Jair Bolsonaro e ex-assessor de Flavio na Assembleia.
O delegado-informante teria aconselhado ainda Flávio a demitir Queiroz e a filha dele, que trabalhava no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro. Segundo o relato, ambos foram exonerados em 15 de outubro de 2018 por ordem do então candidato Bolsonaro.
Flávio se manifestou no dia seguinte à veiculação da entrevista e chamou as declarações do ex-aliado de “invenção de alguém desesperado e sem votos”.
Já o presidente optou pelo silêncio e comentou o caso uma única vez, na terça-feira (19), em entrevista ao jornalista Magno Martins, responsável pelo Blog do Magno. Na ocasião, Bolsonaro disse que Marinho terá que provar a acusação que fez .
“Ele [Marinho] vai ter que provar, não vou entrar em detalhe, quem foi o delegado que teria dito para um assessor do meu filho… É sempre assim, né? ‘Ouvi dizer não sei o que lá…’. Não é ouvi dizer”, declarou Bolsonaro, na entrevista transmitida pelas redes sociais.
Fora esse episódio, não houve outros contatos com jornalistas. A última vez que Bolsonaro parou para responder perguntas de repórteres em frente ao Palácio da Alvorada foi na sexta-feira (15), portanto antes da publicação da entrevista.
Esta última manifestação a jornalistas na porta do Alvorada foi quando admitiu ter falado em PF na reunião ministerial de 22 de abril, embora insista na versão de que não se referia à uma intervenção na Polícia Federal -o ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), deve decidir nesta semana sobre a divulgação do vídeo do encontro ministerial.
Desde então, seja na hora de sair ou de voltar para a residência oficial, Bolsonaro tem evitado os jornalistas. Ele tem parado apenas para cumprimentar e interagir com os apoiadores que todos os dias o esperam em frente ao Alvorada.
Como o espaço reservado para os simpatizantes é separado do ponto de espera de jornalistas, o mandatário não abre espaço para ser questionado sobre as acusações trazidas por Marinho.
Nesta quinta-feira (21), por exemplo, ele ouviu de um apoiador queixas de que, em Fortaleza, autoridades locais teriam ordenado a retirada da bandeira do Brasil de carros que participavam de uma carreata contra o isolamento social -algo que o governo do estado nega.
“O que está acontecendo? Tudo é informação. Você tem que tomar conhecimento do que está acontecendo para entender para onde o Brasil estava indo com essas pessoas. O grande recado é esse: imaginem uma pessoa, do nível dessas autoridades estaduais, na Presidência da República. O que já teria acontecido com o Brasil?”
“Esse é recado. Vocês vão ter que sentir um pouco mais na pele quem são essas pessoas, para juntos a gente mudar o Brasil, à luz da Constituição, da lei, da ordem”, respondeu Bolsonaro.
Também nesta quinta, houve apelo de um apoiador por intervenção militar -Bolsonaro disse que não responderia o comentário- e uma pessoa que se apresentou como funcionário do apresentador Dr. Robert Rey (que participou do reality Dr. Hollywood) pediu que seu chefe fosse incorporado à equipe de combate à Covid-19 no Ministério da Saúde.
“As decisões nesse sentido cabem exclusivamente ao ministro interino [Eduardo Pazuello, da Saúde]. Ele está fazendo um excelente trabalho e ele que está escolhendo a equipe”, respondeu Bolsonaro.